Ricardo Baca
The Denver Post
O Bon Jovi é um integrante tão básico da cultura jovem norte-americana que é difícil imaginar o final da década de 1980 sem a banda de Nova Jersey, liderada pelo carismático Jon Bon Jovi, com os seus cabelos modelados por spray.
É claro que o conjunto continuou gravando e fazendo turnês durante a década de 1990, e ainda está junto, tocando músicas do tépido CD "Have a Nice Day".
Mas, à medida que o aniversário de 20 anos de "Slippery When Wet", em agosto, se aproxima, é difícil acreditar seriamente que a banda seja algo mais do que uma relíquia de outra era, um lembrete do ponto em que chegamos.
Naquela época, o Bon Jovi era dinamite nas rádios, chegando a ser inovador. Só nos Estados Unidos, a banda vendeu quase 15 milhões de cópias de "Slippery" e do CD seguinte, "New Jersey", e o grupo sempre foi um sucesso no exterior. Eles foram os pioneiros de um sub-gênero de heavy metal que enfatizava as melodias pop, os vídeos centrados na imagem dos seus integrantes e as canções simples.
A maior contribuição do Bon Jovi para a civilização, conforme a conhecemos, pode ter sido o fato de permitir que até aqueles de nós mais obtusos para a música fôssemos capazes de cantar sozinhos as suas melodias. Tendo isso em mente, eis aqui as dez principais músicas da banda para se cantar em voz alta –seja como karaokê, seja no carro. E, não, "Bed of Roses" não faz parte das dez.
1. "Raise Your Hands" – A música com mais freqüência subestimada (e muitas vezes relegada ao esquecimento) do repertório da banda, "Raise Your Hands" é uma composição exótica que remete a clichês como "más reputações" e "situações difíceis". Aquele refrão de mau gosto em que a guitarra parece uma metralhadora também é inesquecível. E há o sintetizador de fundo. Dá para imaginar o que acontece durante o show quando a banda pede ao público que os acompanhe em um enorme coro? "Raise your hands!" ("Levantem as mãos!"). É algo que me deixa nervoso.
2. "Livin’ on a Prayer" – Uma música classicamente ruim, "Livin’ on a Prayer" é algo que todo sobrevivente da década de 1980 deveria memorizar. E a maioria o fez. Isto ficou claro em um recente café da manhã, às 4h, em Las Vegas, quando um dos participantes começou a cantarolar – "We gotta hold on to what we got…" –e a mesa inteira formou um coral, para horror do lotado Peppermill.
3. "You Give Love a Bad Name" – Ok, eis a fórmula: "Shot through the heart/And you’re to blame/You give love a bad name" ("Atingido no coração/E você é a culpada/Você dá ao amor uma má reputação"). Por algum motivo, muita gente acredita que a parte intermediária é "And you’re too late" ("E você está muito atrasada"), o que não faz sentido. Embora o coro frenético e que se fixa em nossas mentes –o escarnecedor "I play my part, and you play your game" ("Eu faço o meu papel, e você faz o seu jogo") –seja um sucesso, o resto da música não é tão divertido. Mesmo assim, aquela breve passagem na qual eles soltam os freios ao final da música (com palmas e bateria rápida!) se constitui em um belo momento, um marco do "jock rock".
4. "I’ll Be There for You" – O Bon Jovi adora as improvisações lentas. E nós também (o álbum com esta música foi um dos primeiros que eu comprei na vida). Mesmo com 11 anos de idade, eu fui capaz de enxergar através da ridícula névoa de spray de cabelos do Bon Jovi. "I’ll be there for you/These five words I swear to you/When you breathe, I wanna be the air for you" ("Estarei lá a lhe esperar/Juro a você estas cinco palavras/Quando você respirar, quero ser o seu ar"). Fiquei pensando: "Quem são esses babacas?", e depois memorizei cada palavra. Esta música também possui uma das piores letras do Bon Jovi: "I didn’t mean to miss your birthday, baby/I wish I’d seen you blow those candles" ("Não queria perder o seu aniversário, querida/Gostaria de ter visto você soprar as velinhas"). Ai!
5. "Runaway" – Agora estamos chegando à velha escola. Este foi o primeiro sucesso isolado do Bon Jovi –tecnicamente, foi o primeiro e único sucesso de Jon Bongiovi antes que ele mudasse de nome. Foi o que deu início a tudo e o encorajou a montar a banda. Ela é divertida, por ser diferente de todas as músicas que vieram depois. Os teclados não retiram necessariamente a ênfase do solo de guitarra, mas dá à música uma personalidade "pop-sintetizador" bastante própria.
6. "Wanted Dead or Alive" – A postura é tudo com relação a esta música. Lembre-se, você é um caubói, e o seu cavalo é feito de aço. Ou algo semelhante. A idéia absurda de Jon Bon Jovi como um caubói é o que torna esta música bizarra. Você poderia pensar que "Wanted Dead or Alive" estaria mais próxima do topo da lista, mas ouça-a novamente e perceberá que não há nada de muito interessante nela. "I walk these streets, a loaded six-string on my back/I play for keeps ‘cause I might not make it back… I’ve seen a million faces, anda I’ve rocked them all" ("Ando por estas ruas, com uma guitarra carregada com seis cordas nas costas/Toco para sobreviver, porque posso não ser capaz de retornar… Vi um milhão de rostos, e apaguei todos eles". Quando a música retorna para aquela parte do "sou um caubói", não consigo me manter sério.
7. "Always" – Pegue a melhor voz der falsete para balada de rock dos anos 80 e aborde esta pérola que teria deixado Whitney Houston orgulhosa: "IIIII will love you, baby, always/IIIII’lll be there forever and a a day" ("EEEEu a amarei sempre, querida/EEEEuuu estarei lá pela eternidade e mais um dia") . Não se esqueça de manter uma expressão nostálgica na face.
8. "Lay Your Hands on Me" – Qual o problema com aquela irritantemente longa introdução? A demora para os músicos começarem a cantar é de um minuto e quarenta segundos. Mas tão logo a parte vocal tem início, o roqueiro, com um estilo gospel simplista, prende a sua atenção como se estivesse interpretando uma mistura de "Appetite for Destruction", da era Guns N’ Roses, e "Faith", da era George Michael.
9. "Blaze of Glory" – O crédito por esta melodia foi para Jon Bon Jovi, e não para a banda. Ele fez a trilha sonora para o filme "Young Guns II" –eles devem ter gostado daquela história de "Sou um caubói" –, e isso me lembra Peter Cetera libertando-se de Chicago e compondo "Glory of Love" para um dos filmes "Karatê Kid". Terrível, sim. Mas também fantástico.
10. "Bad Medicine" – Parte KISS, parte New Kids on the Block, esta está longe de ser a melhor música do Bon Jovi. Mas em se tratando de um grupo, a música é uma rebelião sonora. "There ain’t no doctor that can cure my disease" ("Não há médico capaz de curar a minha doença"). Ah, é? "That’s what you get for falling in love" ("É isso o que você recebe por se apaixonar"). Sim, muito bem, é isso o que eu digo. A proclamação exagerada da palavra "medicine" ("remédio") não é lá muito condizente com o rock ‘n’ roll, mas o que mais se poderia esperar de uma turma de embusteiros da pior qualidade?
Tirado do UOL: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/outros/2006/02/20/ult586u323.jhtm