parte de uma comunidade religiosa. Uma vez fiz uma pergunta sincera a
alguém que ia a igreja, era mais ou menos assim:
– Se tudo que
Jesus diz é "Ame o próximo como a si mesmo, e a Deus acima de todas as
coisas", porque as pessoas se apegam a outros detalhes que são apenas
partes soltas desse princípio, ou que não tem nada a ver as vezes?
Eu
achava na época que esse era um princípio, um fenômeno da religião, mas
na verdade é algo humano e pessoal. As pessoas entendem suas
limitações, sabem que não vão conseguir seguir o princípio básico
totalmente e então dão importância a outros detalhes não tão completos
ou que as vezes sequer estão relacionados ao fato principal, mas são
bem mais plausíveis de conviver, mascaram para si mesmas (e acreditam
nisso) como uma forma de assim dar seguimento a suas vidas
tranqüilamente.
Aqui se incluí a incrível capacidade das pessoas
mesmo erradas acharem que estão certas, parece muitas vezes um crime
estar errado e se alguém lhe aponta um erro, piorou. Vários conflitos
do nosso dia a dia são baseados nessa incrível programação cabeça dura
que temos, e as vezes alguns até acabam de forma trágica.
Mas
talvez nenhum dos casos acima seja uma maior prova do que quero dizer
do que receber um "não" de quem se ama. A primeira coisa que vem na
cabeça de quando um relacionamento acaba é "por que?", e isso quase
sempre traz as respostas mais falsamente "amaciadas" possíveis (isso
claro, se a pessoa em questão ainda possui um pingo de sensibilidade
para com outro ser humano). Alguém poderia até justificar que é
importante saber para poder melhorar, ou para quem sabe conseguir mais
uma chance… mas sendo sincero, nunca vi ninguém que melhorou por uma
explicação de fim de relacionamento. Se a pessoa quer descobrir se tem
algum problema que faz os relacionamentos darem errado é muito melhor
perguntar ao amigos, familiares, ou terapeutas do que ao seu
ex-parceiro(a)… na verdade este deveria ser a última pessoa a ser
indagada já que o problema pode ser ele(a) e não você.
Mas o
motivo, a razão, tão buscada, tende por virar uma muleta, uma fuga da
realidade. Entra na questão do factóide ser maior que o fato em si, e o
fato é que não dá mais! Não existe uma cláusula contratual que estipule
que tudo tem que ter um motivo ou que todos sejam obrigados pela lei do
comcubinato a explicar, em forma de relatório de no mínimo 30 páginas
com espaçamentos das normas técnicas da ABNT, o porquê da relação não
dar mais certo. A verdade é que apenas um "não" deveria bastar, isso é
que é significativo para que uma pessoa siga em frente sem olhar para
trás e dê seguimento a sua vida.
O divisor de águas para mim
nesse aspecto foi quando assisti o filme Closer, principalmente por uma
frase dita por uma das personagens já no final do filme: "Descobri que
não te amo mais". A naturalidade, o contexto, a forma como ela falou,
como se estivesse se libertando, como se fosse simples, um "te amava a
5 minutos antes, agora perdeu playboy!". Tudo aquilo me deixou
estático, porque naquele momento que vi o filme no cinema, eu estava na
fase mais dor-de-cotovelo que já tive em toda a minha vida. Então muito
do que eu falo aqui, não falo da boca para fora, mas eu vivi.
A
verdade é que se a gente se preocupasse mais com os fatos, com o que
realmente importa, e não tentasse arrumar desculpas ou motivos paras as
coisas serem mais fáceis ou para não ter que encarar a realidade,
seríamos muito mais objetivos e estaríamos no caminho de ter a vida
mais no nosso controle. Só não garanto que a vida iria ser mais fácil
assim.